sábado, 20 de abril de 2013

Feita para palavrear


      Não sei se tenho muito a dizer, sequer algo a dizer. As palavras me acertam numa rajada de vento forte pela varanda e, aos poucos, simplesmente vão embora sem permissão numa leveza plena pelo pequeno vão da porta. Uma brisa bate na janela, empurrando a cortina e, quem sabe, trazendo de volta as minhas palavras. As palavras que nunca proferi, aquelas que se perderam em meio a tantas distrações e pensamentos.
     É como se me pedissem para abrir minhas mãos com os dedos bem espaçados para segurar água. Enquanto uma jarra é posicionada sobre a minha mão e a água cai sem parar, o líquido se dissipa, segue outro rumo. Apenas algumas gotas por fim permanecem em minhas pequenas mãos e eu sem o poder de controlá-las para permanecer onde estão. São esses os meus resquícios de frases pensadas a todo o momento, elas nunca param de chegar, mas também nunca ficam para uma história durante o chá da tarde. O jeito é segurar o máximo que eu puder e esperar que as outras venham pedindo aconchego no cantinho quente de uma vírgula.
     Uma música serena pode nos colocar de volta a um momento de onde nunca queremos sair, uns segundos de serenidade ao meio do caos para conseguir se expressar de maneira clara e objetiva, sem precisar de tantas palavras enroladas e metáforas para explicar algo tão simples. Este texto será como uma boa memória para aqueles pequenos e curtos momentos de descanso da minha mente, onde não parei para pensar se o que estava escrito estava bonito ou de acordo com complexas regras gramaticais, mas que apenas explicam como o meu pensamento tem andado ultimamente, ou mesmo sempre, mas que apenas agora consegui organizar em pastas e etiquetas enumeradas.
     No momento em que paro para ler os meus pensamentos, vejo o quanto tudo parece errado, seja em questão de verbos ou substantivos repetidos quanto sequer à falta deles... A falta de um novo parágrafo. A vontade insana de falar sobre tantas coisas em só um texto que faz o sentido de tudo sumir após o primeiro ponto final. É como meados de um sonho durante o sono profundo, onde nos sentimos imersos com aquela realidade onde pessoas e lugares mudam de forma sem o menor aviso e assim continuamos como se nada tivesse acontecido.
     E quanto mais leio, mais vejo imperfeições.  Muitos dizem que enxergar a própria imperfeição nos leva à ambição do perfeito, mas então porque toda vez tenho vontade apenas de apagar tudo com raiva e agonia pensando que nunca vou poder melhorar? Acho que pensar demais faz isso com as pessoas, encontram erros onde não há, enxergam problemas que podem nunca chegar a acontecer. “Over thinking” seria uma qualidade ou um defeito?
     Prefiro então nunca mais ler minhas palavras, assim decido. Posso ler a de outros e desejar a minha vida inteira escrever como tais, mas nunca sequer tentar ou ao menos pedir opiniões por acreditar não ser o suficiente para chegar aos pés de qualquer outra pessoa.
     Muitas vezes penso que não fui feita para as palavras, portanto escrevi um texto para dizer porque não escrevo. 

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